Mesmo que você já tenha ouvido falar sobre franquia, é normal se perguntar: como esse modelo de negócio funciona? A franquia consiste em um relacionamento entre a empresa proprietária da marca, chamada de franqueadora, e a pessoa que compra uma franquia, chamada de franqueado.
A franquia é uma ótima opção de negócio para quem deseja investir ou empreender, mas apesar da popularidade poucas pessoas conhecem a fundo todos os detalhes e características do franchising. Por isso, preparamos esse guia completo.
Onde surgiu a franquia?
Há pelo menos duas versões sobre o surgimento da franquia: enquanto alguns apostam que o franchising surgiu com a marca Singer, outros acreditam que a franquia surgiu há centenas de anos, com a Igreja Católica. A verdade é que a primeira a realmente outorgar licenças foi a Singer.
A Singer Sewing Machine Company nascida nos Estados Unidos (EUA), na década de 1850, decidiu outorgar licenças para divulgação da marca e do modelo de operação. Dessa maneira, comerciantes de várias regiões norte-americanas conseguiram comercializar e vender os produtos da marca.
A Igreja Católica teria dado início ao franchising por se espalhar por todas as regiões do mundo, com várias unidades, ter o Vaticano como sua “sede” e ser controlada por ele. Na visão de alguns estudiosos, esse já era um modelo que se assemelhava muito a uma franquia.
Algumas décadas mais tarde, em 1890, a General Motors também seguiu o mesmo modelo e disponibilizou a sua marca para formar concessionárias de veículos. Outra gigante do mundo empresarial também iniciou a sua distribuição de licenças na mesma época, a Coca-Cola, quando oportunizou a outros empresários que fabricassem e distribuissem a sua fórmula.
No Brasil, as franquias começaram a despontar cerca de 10 anos depois da evolução nos Estados Unidos. As primeiras franquias brasileiras foram de duas escolas de idiomas, a CCAA e Yazigi. Depois disso, outras marcas também começaram a apostar nesse modelo e se tornaram um grande sucesso; um exemplo disso é o Boticário, a maior franqueadora do país.
O que é uma franquia?
Uma franquia é um modelo de negócio onde o “dono da marca”, denominado franqueador, concede a outras pessoas, denominadas franqueados, o direito de usar a sua marca para revender produtos, serviços ou a junção dos dois.
Além disso, o modelo de negócio de uma franquia já deve estar pronto e validado, para que o franqueado usufrua de todo o know-how da franqueadora; a tecnologia; o suporte em todas as etapas do processo e a distribuição de mercadorias, para os casos onde haja venda de produtos, de acordo com o contrato.
Como funciona a mini franquia?
As mini franquias, também conhecidas como microfranquias, têm um formato mais simples e enxuto, por isso o custo para aquisição é menor, se comparado às franquias tradicionais. De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), as mini franquias têm investimento de até R$ 105 mil.
Mas, diferente do que a maioria das pessoas pensam, investir em uma mini franquia não significa ter um negócio menor. Se bem trabalhada, a microfranquia pode atingir escalabilidade e faturamento alto.
O grande diferencial é que a maioria delas não precisa de pontos físicos, a depender do modelo de produto ou serviço oferecido, muitas são geridas no modelo home office.
Legalização das franquias no Brasil
A legalização das franquias no Brasil iniciou com a criação da Associação Brasileira de Franchising (ABF), em 1987. Sete anos depois, a ABF publicou a primeira lei de franquias (Lei nº 8.955/94), que foi substituída, em 2019, pela Lei nº 13.966/19.
A Lei de Franquias estabelece os direitos e deveres das duas partes, ou seja, do franqueador e do franqueado.
Como funciona o franchising?
Ao adquirir uma franquia, o franqueado adquire o direito de usar a marca e vender os produtos e serviços em determinada região, aliado a isso ele também tem o direito de:
→ Usufruir de todo o modelo de negócio da franqueadora, que, neste caso, já deve estar pronto.
→ Receber todo o know-how existente na franqueadora.
→ Participar de consultorias e atendimentos junto à franqueadora sempre que achar necessário.
Mas agora vamos te contar detalhadamente como todos esses processos acontecem!
Escolha
Depois que você decide que vai investir em uma franquia, o primeiro passo é escolher o segmento e a rede à qual você vai comprar a licença para trabalhar. Para isso, você pode responder algumas perguntas:
Quais as minhas maiores habilidades?
Qual é o valor que estou disposto a investir neste momento?
Qual o tempo que eu posso dedicar a esse negócio?
Depois de responder a essas perguntas, você estará mais perto de saber qual segmento de negócio mais combina com o seu estilo e, assim, saberá quais os ramos poderá procurar, dentro do seu orçamento, perfil e tempo que irá disponibilizar à marca.
Seleção
Quando o ramo a que você deseja atuar estiver escolhido, é hora de pesquisar as franquias disponíveis e que se encaixam com o que você procura. Ao escolher a marca, é necessário passar pelo processo seletivo da franqueadora, a fim de verificar se realmente há conexão entre as suas expectativas e a da empresa que disponibilizará a marca e vice-versa. Em cada rede, o processo seletivo é diferente, mas geralmente consiste em reuniões de alinhamento, para que ambas as partes se conheçam mais.
Aquisição
Sendo aprovado no processo seletivo da franqueadora, é preciso ler e estudar, com cautela, a Circular de Oferta da Franquia (COF) e o contrato de aquisição da franquia para verificar se há algum desencontro de informação entre o que foi combinado nas reuniões de alinhamento e o que está discriminado nos respectivos documentos.
Documentação
Para firmar a parceria e iniciar, de fato, o processo de aquisição da franquia, é necessário que os documentos solicitados sejam enviados à franqueadora para que a parceria seja documentada e o próximo passo se inicie.
Pagamento
Depois dos documentos e leitura da COF e do contrato, é hora de efetivar a aquisição da sua franquia com o pagamento da taxa de franquia, um valor pago diretamente à franqueadora pelo direito de utilizar a marca e o modelo de negócio que já está pronto e todo o suporte nessa jornada empreendedora.
Treinamento
Com o pagamento efetivado, agora como franqueado, você deve iniciar os seus treinamentos para conseguir gerir o seu novo negócio e, principalmente, conhecer a fundo o produto e/ou serviço em questão. Os treinamentos devem ser direcionados pela franqueadora, que dispobiliza especialistas para isso; neste ponto, o seu dever é imergir neste novo mundo e não deixar passar nenhuma oportunidade de se tornar expert no seu novo negócio.
Implantação
Com os treinamentos concluídos, enfim chegou o momento de iniciar a operação de suas lojas e/ou serviços junto à franqueadora. Neste momento de start, mais do que nunca é necessário que você receba o apoio da rede, com todas as dicas e suporte para a implantação do seu negócio.
Suporte
Com as suas lojas ativas e já faturando, você, como franqueado, tem o direito de receber todo o suporte necessário ao longo de sua jornada empreendedora. Isso pode acontecer por meio de reuniões agendadas, consultorias coletivas, encontros periódicos e tantas outras maneiras que as franquias encontram para disseminar conhecimento e acompanhar os seus franqueados.
O que é a taxa de franquia?
No franchising, a taxa de franquia é um valor fixo e único que o franqueado paga à franqueadora. Ela corresponde à concessão de uso da marca ao franqueado; o pagamento deve ser realizado logo após a assinatura do contrato de adesão.
O valor da taxa de franquia deve constar na Circular de Oferta de Franquia, além de especificações como quantas unidades o franqueado terá o direito de abrir com o valor de uma taxa.
Por que pagar a taxa de franquia?
A taxa de franquia é de uso exclusivo e irrestrito do franqueador, sendo que, geralmente o valor é usado para custear os processos de captação e suporte dos franqueados. Independente da maneira que esse valor será usado, essa cobrança nada mais é do que uma remuneração à franqueadora pela ideia criativa e desenvolvimento do negócio, da tecnologia operacional, administrativa e know-how.
Como é calculada a taxa de franquia?
Na hora de modelar o negócio para se tornar uma franquia, a empresa usa algumas estratégias e leva alguns pontos em consideração: valor que o franqueado precisará dispor para abrir suas lojas, o prazo estipulado para payback, a lucratividade do negócio, a maturidade da rede e o custo gasto para prospectar cada franqueado.
Payback
O payback é um indicador financeiro capaz de analisar em quanto tempo você terá o retorno sobre o investimento de uma franquia. Por meio dele, é possível que você, como investidor, analise os riscos e a viabilidade do negócio.
Lucratividade
Outro ponto que é levado em consideração na hora de calcular o valor de taxa de uma franquia, é a lucratividade que o negócio oferece ao franqueado, ou seja, o ganho que ele conseguirá obter com o desenvolvimento do seu trabalho.
Maturidade
A maturidade se refere ao tempo e a posição em que a franquia está no mercado. Se a marca ainda está no início da sua expansão, geralmente a estratégia, nesse período, é cobrar um valor mais baixo de taxa de franquia para, justamente, expandir de maneira mais rápida.
Se a rede já possui um certo know-how e passou da fase iniciante, o valor da taxa de franquia tende a aumentar, pois a franqueadora já possuirá mais experiência no seu segmento e, consequentemente, uma marca mais conhecida e um suporte melhor ao franqueado.
Custo por franqueado
O custo por aquisição de cada franqueado também é algo levado em consideração na hora de calcular a taxa de franquia. Conforme uma pesquisa recente da Cherto, as redes franqueadoras gastam mais de R$ 10 mil em divulgação para obter um novo franqueado.
Há franquias que não cobram taxa?
Muito raro, mas, sim! Algumas franquias optam por não cobrar o valor fixo de taxa. Com certeza, essa escolha faz parte de uma estratégia de vendas da rede, ligado à expansão rápida. Nesses casos, a franqueadora ganha em royalties.
É importante lembrar que mesmo sem a cobrança da taxa de franquia, a franqueadora não pode, em nenhum momento, se ausentar do suporte ao franqueado ou do repasse de conhecimento da sua marca.
O que pode acontecer também, é a franqueadora disponibilizar um desconto, em determinados momentos, na taxa de franquia. Esse desconto pode ser uma porcentagem sobre o valor total ou a possibilidade de abertura de mais lojas com o pagamento de uma única taxa.
Relacionamento entre franqueado e franqueador
A franqueadora tem um papel muito importante para o franqueado. E é sobre essa relação entre franquia e franqueado que falaremos neste post, já que esse relacionamento tão importante inicia-se na assinatura do contrato e deve se estender por toda a jornada de existência do negócio.
Isso vai de encontro ao quesito segurança empreendedora. Afinal, quando alguém decide empreender e opta por uma franquia, é justamente pensando nisso: na segurança do suporte garantido pela franqueadora; no know-how que poderá contar e na trajetória da marca.
Por ser um modelo bem diferente de um negócio tradicional, onde o empreendedor inicia sua marca do zero e constrói sozinho o seu planejamento e as questões que permeiam toda a gestão do negócio, a franquia exige que haja um bom relacionamento entre franquia e franqueado.
E isso começa já no processo seletivo da franqueadora, que deve ser assertivo e detalhadamente traçar o perfil do seu franqueado ideal. Afinal, cada tipo de negócio exige habilidades diferentes, tempo a dispor e expectativas de escalabilidade e rentabilidade que estejam alinhadas com a realidade do segmento.
Mas como descobrir tudo isso e garantir que o relacionamento entre franquia e franqueado seja saudável? É sobre isso que vamos falar agora!
Sinceridade
Já que a construção de um bom relacionamento entre franqueado e franqueador inicia no processo seletivo, ainda quando o empreendedor está apenas interessado na franquia, é importante que ambas as partes sejam muito sinceras.
Por um lado, a franqueadora precisa ser clara quanto aos pontos relacionados ao negócio: qual o real valor do investimento? Qual o tempo médio esperado para o payback? Quais os riscos do negócio? Qual o tempo que o franqueado precisará dispor ao negócio? Quais habilidades ele precisa ter para ter sucesso? O negócio vai precisar de funcionários ou não?
Por outro lado, o interessado na franquia precisa ser sincero em relação às suas expectativas sobre o negócio; sobre o valor que deseja investir; o tempo que pode disponibilizar por semana à franquia; as habilidades que possui e quanto deseja faturar.
Dessa maneira, as expectativas já começam alinhadas e com menor chance desse relacionamento dar errado. Mas é claro que ao longo da jornada, podem surgir frustrações ou insatisfações e isso também deve ser esclarecido, por isso a sinceridade é uma ferramenta indispensável para um bom relacionamento entre franqueado e franqueadora.
Meios de comunicação
Nessa missão empreendedora, outro ponto muito importante para uma franquia é escolher os meios de comunicação corretos para estar em contato com os franqueados e, assim, manter uma boa comunicação.
E-mail, telefone, WhatsApp, chat, sistema próprio… Cabe à franqueadora escolher os melhores meios e ao franqueado comunicar se estão sendo efetivos para a resolução de seus problemas ou não.
Confiança
O nível de confiança entre franquia e franqueado também é algo muito relevante para a manutenção de um bom relacionamento. E essa confiança é construída dia a dia, sendo iniciada já nos primeiros contatos, como nas reuniões de alinhamento e, posteriormente, nos treinamentos de integração à rede.
No dia a dia desse relacionamento, a confiança é aumentada conforme o franqueado vai recebendo o suporte que necessita para gerir e escalar o seu negócio, assim como ele vai reconhecendo todo o know-how da franqueadora, a cultura e a política de trabalho da empresa.
Cumpra os deveres e cobre os direitos
Há um ditado popular que diz: o combinado não sai caro. E é essa a nossa dica de ouro, que vai te ajudar (e muito) a manter um bom relacionamento entre franqueado e franqueador.
Atente-se ao contrato e à Circular de Oferta de Franquia (COF), para cumprir todas as regras e deveres contidas neles. Sendo assim, você também poderá cobrar da franqueadora tudo que estiver disposto nos documentos e que são de obrigação da franquia.
Depois de pensar sobre todos esses pontos, chegamos à conclusão que a franquia e franqueado precisam ter muita responsabilidade nesta longa jornada de negócio para manter um bom relacionamento.